segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O jogo da imperfeição

Na mente alheia, vagamos sempre entre o ruim e o detestável. Eternamente fadados ao mediano, o nem lá nem cá, o mais ou menos. Novo demais, velho demais. Alto demais, baixo demais. Distante por descaso, próximo por interesse. Solitário esquisito, carente por atenção. Fudido sem dinheiro, esnobe.  Sincero demais, mentiroso. Nunca somos bons o suficiente. Acho que não fomos feitos para enxergar a perfeição. Porém, na vida de todos nós chega um momento que conseguimos. Somos ótimos, completos. Mas isso acaba tão rápido quanto começa. Logo voltamos a ser o “quase lá”. Fodia pouco, era tarado. Não ganhava o suficiente, trabalhava demais. Era muito ciumento, era muito indiferente. Não queria sair de casa, só queria ir para a rua. Era meloso, era grosseiro. O jogo da imperfeição é eterno enquanto dura e ninguém entra nele para ganhar. Mas cedo ou tarde, todos nós acabamos vitoriosos. Um dia o dado rola e pronto. “Ande sete palmos para baixo”. Pobre vencedor. Era uma pessoa maravilhosa.

domingo, 31 de agosto de 2014

Um caso de amor e ódio – palavras sobre uma geração confusa nas vésperas das eleições

Eu amo época de eleições. Principalmente presidenciais. O debate que ficou quase esquecido nos últimos quatro anos renasce, opiniões pipocam por todo o lado, somos apresentados aos concorrentes e todo o circo é armado por alguns meses. Discussões surgem para todo lado, nos ônibus, no trabalho, na mesa de bar, na reunião em família, nas redes sociais, nas escolas e faculdades. A pluralidade é imensa. A oportunidade de se informar também. A chance de aprender e conhecer um pouco de política é única.

Eu odeio época de eleições. Principalmente presidenciais.  O debate que ficou quase esquecido nos últimos quatro anos renasce, opiniões pipocam por todo o lado, somos apresentados aos concorrentes e todo o circo é armado por alguns meses. Discussões surgem para todo lado, nos ônibus, no trabalho, na mesa de bar, na reunião em família, nas redes sociais, nas escolas e faculdades. A pluralidade é imensa e a sujeira descarada. A mídia tendenciosa, os discursos de ódio e as pessoas que bradam absurdos como verdade absoluta. A falta de informação e/ou a pura maldade e falta de caráter se espalham viralmente.

Nesse ano a síntese da política parece ser “ninguém aguenta mais o PT”. Ouço/leio isso com tanta frequência que quase me convenço que é verdade. Outra frase que parece definir a opinião da classe média é: “nunca se viu tanta corrupção no país”. Nisso eu sou obrigado a concordar. Provavelmente por motivos diferentes da maioria que reproduz essa fala, mas não entraremos no mérito.

Quanto mais leio, ouço, falo, vejo e penso, mais tenho certeza que sim, eu estou insatisfeito com o governo atual. Minhas críticas ao governo Dilma não são poucas, porém seguem um caminho totalmente diferente da maioria que grita “Fora PT” aos sete ventos (ou aos milhões de fibras óticas e ondas de rádio).

Eu estou insatisfeito porque a Dilma não lutou pela reforma política no país. Porque nada mudou na nossa politica econômica, onde tudo é ditado de acordo com os interesses de poucas famílias e banqueiros continuam a enriquecer silenciosamente. Porque assuntos cruciais foram ignorados, como a regulamentação das drogas, tão discutida no mundo inteiro nos últimos anos e outras questões vitais de cunho social e não menos polêmicas. Porque a ideia de democratização da mídia nunca andou e por mais uma penca de coisas.

Enquanto isso, os programas sociais, responsáveis pela inclusão de milhões de pessoas no Brasil, são criticados, apontados como “esmola” e “compra de voto da classe pobre”. O plesbicito proposto para discutir a reforma política é atacado por alguns como algo “antidemocrático”. A democratização da mídia recebe o rótulo de censura.

Me sinto preso dentro de um Opposite Day eterno. Vejo um povo com o legítimo direito de estar insatisfeito, mas repetindo palavras que só são interessantes para aqueles que estão fora do contexto de “povo”. Agindo como papagaios de interesses reacionários e elitizados. Dançando a música da mídia tendenciosa que não faz jornalismo e sim política.

É justo não votar no PT. Assim como também é justo não votar no PSDB, PSB ou PSC. Oras, até onde eu sei é justo até não ir votar ou ir lá e apertar o número do Ey-ey-eymael, o Democrata Cristão. Injustiça é limitar a argumentação politica com um “Não voto porque é ruim”. “Não voto porque é corrupto”. “Não voto porque não”. Injustiça é querer ser um politizado preguiçoso. Injustiça é protestar contra tudo sem defender nada. Maior injustiça ainda é comprar um discurso congelado e só ter o trabalho de esquentar e servir. Não, eu não sou obrigado a engolir isso.

A geração que vive na “era da informação” tem um potencial sem precedentes. Tem acesso ao aprendizado e voz ativa em dimensões inéditas na história da humanidade. Ironicamente essa liberdade virou uma obrigação social banal. Nos sentimos obrigados a propagar conteúdo, mas não precisamos entender sobre o que falamos. Somos obrigados a ter uma opinião sobre tudo, mas não precisamos pensar sobre nada. Só precisamos ter. Mostrar que temos. Compartilhar isso com todos que conhecemos. Assim seremos aceitos. Seremos reconhecidos. Teremos feito nossa parte. Teremos passado despercebidos. Ufa! Agora ninguém vai achar que eu sou alienado ou desinformado.

E na dúvida é sempre mais fácil repetir o que andam dizendo, não é? Como disse um amigo, “vestir aquele pretinho básico”. Não tem como errar. É só seguir com a corrente. Ir no embalo. É fácil, prático e efetivo.

Mas extremamente irritante. 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

"Um cara muito sem assunto"

Descobri que sou um cara muito sem assunto. Eu não sei do último affair de um astro de Hollywood, muito menos de uma entrevista bombástica com alguma celebridade brasileira. Eu não sei o que aconteceu na novela ontem e também perdi aquela sketch hilária no programa de humor. Eu não converso muito sobre política porque, aparentemente, o mundo inteiro entende mais do assunto do que eu. Também não falo de religião porque acabo descobrindo que eu sou "maluco", "ateu", "perdido", etc e mais etc.

Eu não saco nada de moda. Quem me conhece sabe que minha noção de estilo é comparável a macacos voadores (entende-se que não existe, se não ficou claro). Também não manjo muito de carros. Até arrisco uma conversa, mas comparado com o resto do mundo eu sou bem leigo em motores, modelos, desempenhos e por ai vai.

Não me arrisco muito a falar sobre mulheres. Afinal, quase todo mundo a minha volta é "comedor profissional", "pegador implacável", "fodedor especialista". Eu ainda estou longe de alcançar esse nível. Também ainda não fui naquela boate maneiríssima que abriu, nem naquele bar foda que tá ficando lotado de mulher gostosa, nem bebi 20 shots de tequila e três garrafas de whisky no fim de semana.

Não tenho muito saco para as trivialidades. O tempo, o trânsito, a fila, o caos. Também não me saio bem quando entram no assunto universal: a vida alheia. Não me entenda mal, é claro que eu falo dos outros. Negar isso seria, no mínimo, mentira. Mas o problema é que eu não sei muito da vida de ninguém, principalmente daqueles que eu não gosto o suficiente para falar mal. Só quebro um galho quando o papo é futebol e olhe lá. As vezes até nisso eu descubro que não sei de porra nenhuma.

Eu vejo meus filmes, jogo meus jogos, assisto meu Flamengo, leio meus livros, aprecio umas bundas e decotes na rua, ouço minhas músicas, escrevo meus textos, tomo minha cerveja, penso na vida e ouço e leio toda a tagarelice. Nada disso me gabarita a ter assunto no cotidiano. Tudo isso faz de mim um cara muito sem assunto. Nessa rotina onde todo mundo fala muito e não diz nada, onde todo mundo expressa muito e pensa pouco, onde todo mundo sempre tem uma história melhor para contar, sabe de tudo melhor que ninguém e tem sempre o ponto de vista certo sobre tudo, me parece que "um cara muito sem assunto" é a pessoa certa a ser.